Rasgar o coração e não as vestes...

Iniciamos, hoje, o tempo santo da Quaresma inserido na dinâmica do Ano da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco. 

Sabemos que o tempo da Quaresma está marcado pela esperança de uma conversão, de uma esperança de que se pode mudar de vida, para melhor, claro! Todos os dias vamos tendo pequenas ou grandes manifestações da misericórdia de Deus e dos irmãos, porque uma coisa implica a outra. Posso partilhar que, ainda hoje, tive um sinal da misericórdia de Deus num irmão... 

Estamos em constante experiência: pecamos, fazemos mal, caímos na tentação, saímos fora do ritmo normal de vida, mas ainda bem que Deus nos coloca os Homens, nossos irmãos, no nosso caminho e nos apontam o caminho correcto. 

Mas celebrar esta Quarta-feira de Cinzas é celebrar a nossa condição: «Somos pó da terra!». Somos pecadores, somos frágeis, somos «como a palha que o vento leva»... Celebrar este dia é saber que apesar da nossa frágil condição, Deus ama e com um amor tão grande que é capaz de perdoar a nossa infidelidade, a nossa vida ferida, as nossas cruzes, etc...

Estamos, constantemente, necessitados do perdão de Deus, perdão esse que nos faz reviver, que nos marca e que nos restitui a dignidade. 

Na mensagem do Papa Francisco para esta Quaresma, o Santo Padre recorda que a palavra misericórdia vem do vocábulo «Rahamim», que está relacionado com as vísceras, com o nosso interior. Portanto, a misericórdia seria algo que está dentro de nós - muitas vezes adormecida - e que nós mesmos temos de ser capazes de despertar. 

Hoje, na Missa, ouviremos as palavras da Profecia de Joel que são palavras fortes, mas ao mesmo tempo palavras de esperança e um convite à veracidade de vida:

Diz o Senhor: «Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. 
Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos. Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso, pronto a desistir dos castigos que promete. 
Quem sabe se Ele não vai reconsiderar e desistir deles, deixando atrás de Si uma bênção, para oferenda e libação ao Senhor, vosso Deus? 
Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada. Reuni o povo, 
convocai a assembleia, congregai os anciãos, reuni os jovens e as crianças. Saia o esposo do seu aposento e a esposa do seu tálamo. 
Entre o vestíbulo e o altar, chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, dizendo: ‘Perdoai, Senhor, perdoai ao vosso povo e não entregueis a vossa herança à ignomínia e ao escárnio das nações. Porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?’». 
O Senhor encheu-Se de zelo pela sua terra e teve compaixão do seu povo. 

O Profeta encontra a necessidade de que o Povo peça perdão dos seus pecados, que se arrependa, pois o Senhor é capaz de perdoar, basta que a Ele nos convertamos de todo o coração. 

Mais importante que o exterior é sentir, no interior, o arrependimento. Não adianta fazer jejum, não adianta vestir-se pobremente, não adianta fazer umas BA... Tudo isso ajuda, mas o impulso deve ser do coração... 

Que, neste tempo, nos abeiremos da misericórdia de Deus e nos deixemos transformar pelo Senhor que tudo nos dá e que nada dos tira...

Tiremos proveito deste ano santo... 

Boa quaresma!!!

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