Disponibilidade e Oração

Aqui partilho o que ontem disse, numa pequena alocução, na Eucaristia:

Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 
deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. 


Meus caros irmãos,
A nossa vida é feita de relações, necessitamos de relações, vivemos delas e nelas partilhamos a vida e a nossa existência. Somos um ser em relação…

Mas nas nossas relações procuramos pontos em comum e afinidades, mas simplesmente não existem, pois não somos iguais, não temos todos o mesmo modo de pensar e de agir e isso desinstala-nos… então tem que haver algo mais que isso! Sobra aquele duplo mandamento do Amor: «Amar a Deus e amar ao Próximo!».

Amar a Deus é fácil, porque sabemos que ele é o nosso refúgio, o nosso porto-seguro, o nosso abrigo, já amar os irmãos é mais difícil. Os irmãos desinstalam-nos, fazem-nos pensar no nosso modo de agir e de viver e, por isso, há relações difíceis. Mas tudo depende como se encara a realidade: se encaramos como um desafio, podemos ver como uma oportunidade de mudar e de melhorar; se encaramos como uma fatalidade, ficamos «encalhados» e nunca mais saímos daquele círculo vicioso que nos leva ao afastamento de Deus.

Para Jesus, não importa se nós temos ou não a culpa desta ou daquela situação, mas o mais importante é restaurar a relação! Para tal, não podemos ficar de braços cruzados à espera que as coisas aconteçam, mas há que tomar a iniciativa, há que baixar as armas do orgulho, da maledicência, da inveja e ir ao encontro. 

Quando descobrimos a Deus nas nossas vidas, percebemos que Ele coloca as pessoas em primeiro lugar. 

O Evangelho é claro: «Se te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti», ou seja, estar aberto a ir ao encontro do irmão, com o coração aberto para que possamos restaurar as relações. Porque amar a Deus e estar de costas voltadas para o irmão não é compatível. 

E se for difícil, se não encontrarmos pontos de convergência, afinidades, há um vínculo que ninguém pode apagar. O nosso Pai é o mesmo: é Deus!

Santo Agostinho, no seu comentário a este Evangelho aponta duas vias para restaurar os nossos relacionamentos difíceis: a primeira é a DISPONIBILIDADE (há que ter a disponibilidade para perdoar e para dialogar) e a segunda é a ORAÇÃO (rezar quer pelo irmão, mas também por nós mesmos, pedindo um coração bom e aberto ao perdão). 

Não deixemos que os muros dos nossos orgulhos, das nossas invejas, das nossas impaciências nos dificultem a vida. Aproveitemos essas pedras para contruir pontes que unam, que facilitem o diálogo e que nos aproximem. 

Então, reconciliados uns com os outros, somos capazes de apresentar a oferenda diante do altar, ou melhor, quando reconciliados nós mesmos somos essa oferenda agradável a Deus. 

Confiemos ao Senhor as nossas relações e peçamos-lhe um coração bom para perdoar e para amar, para que os que não conhecem, ainda este amor misericordioso de Deus, possam dizer como os pagãos nos primeiros tempos da Igreja, acerca dos cristãos:
Vede como eles se amam!

Pax Christi

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