Misericórdia... como praticar?

Sabemos que, na Igreja, existem várias maneiras de «fazer o bem sem olhar a quem», como diz a sabedoria popular. Na verdade, é na gratuitidade que se manifesta o rosto de Deus que nos deu tudo, inclusive deu-se a ele mesmo. 
A graça não é uma coisa, mas é Deus a dar-se! Dá-se completamente e de forma gratuita para que nós tenhamos vida e em abundância.
Contudo, a Igreja propõe-nos um itinerário da praticar a misericórdia e não ficar só pela teoria que é muito bonita, mas... de nada serve se não for posta em prática!
Assim sendo, a Igreja propõe-nos uma série de obras que são denominadas de 'Obras de Misericórdia', isto é, são obras que nos levam à pratica do amor gratuito que Deus nos dá - como um dom - e que pomos ao dispor dos irmãos.

Mas, como praticar a misericórdia?

Existem dois tipos de obras de misericórdia que se complementam: as corporais e as espirituais. 

Eis as corporais

  • Dar de comer a quem tem fome
  • Dar de beber a quem tem sede
  • Vestir os nús
  • Dar pousada aos peregrinos
  • Assistir aos enfermos
  • Visitar os presos
  • Enterrar os mortos

  • Como se traduz isto para os nossos dias? 
    A assistência aos mais necessitados é um problema que entra no nosso quotidiano. Todos os dias nos cruzamos com pessoas e com situações de fronteira (sem-abrigo, famílias desempregadas, crianças maltratadas, etc). Como cristãos devemos cuidar daqueles que nos rodeiam, independentemente se conhecemos ou não as pessoas em questão. 
    No fundo, estas obras de misericórdia corporais recordam-nos que temos de ajudar os outros a ter as condições mínimas de sobrevivência para que não caiam no desespero, isto é, restituir aos outros a dignidade que merecem. 
    Mas, caro leitor, pode dizer-me que: 'Eu dou esmola, mas não sei para que é que vão usar o dinheiro!' ou 'Como sou recompensado'. A Madre Teresa de Saldanha, op (fundadora das Dominicanas de Santa Catarina de Sena), embora não trazendo nenhuma novidade, instituiu como lema da sua congregação: «Fazer o bem sempre». É disto que se trata: de fazer o bem! Quanto à recompensa, posso responder com a frase do Evangelho de São Mateus: «teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente» (Mt 6, 4). 
    Quando penso nestas obras de misericórdia vem-me à ideia a Madre Teresa de Calcutá que, por si só já não necessita de comentários: 
    Uma vez foi pedir esmola para ajudar os que tinham fome. Chegou a casa de um homem rico e, estendendo a mão, pediu-lhe qualquer coisa. O homem cospe-lhe na mão. 
    Ela fecha a mão e abre a outra, dizendo: «Obrigado! Isto é para mim, agora peço-lhe qualquer coisa para os pobres!»

    Já as espirituais são:
    • Dar bons conselhos;
    • Ensinar os ignorantes
    • Corrigir os que erram;
    • Consolar os tristes;
    • Perdoar as injúrias;
    • Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
    • Rogar a Deus por vivos e defuntos
    Como fazer?
    Todos os dias nos cruzamos com pessoas que precisam de alguma coisa, nem que seja de um «Bom dia» ou de um sorriso. Bem sabemos disso, até porque nós também precisamos do mesmo. Então estas obras espirituais de misericórdia traduzem precisamente esta necessidade humana das relações e da inter-ajuda. Todos os dias precisamos das pessoas e é inútil pensarmos que não precisamos de ninguém para viver, pois... precisamos do padeiro que nos faça o pão, precisamos do motorista do autocarro ou metro para nos levar ao trabalho, etc. 
    Sabemos, também, que somos limitados e que falhamos e, se nós falhamos, os Homens, nossos irmãos, também falham. Por isso é preciso que nós estejamos dispostos a abrir mão do nosso orgulho, das nossas manias e darmos lugar ao entendimento. 
    Lembro-me de uma história que partilho: 
    Uma vez um noviço estava sempre a comentar que os frades chegavam tarde às Laudes ou adormeciam e não apareciam. Era feroz na correcção. 
    Um dia, esse mesmo noviço deixou-se adormecer. Foi ter com o Mestre e disse que tinha adormecido e que, por isso, pedia desculpas. 
    Então, o Mestre, com paciência respondeu-lhe: «Irmão, benvindo ao mundo dos humanos!»
    Esta história serve-nos, como exemplo, para que não vejamos nos outros o mal que fez, mas o ponto de vista e a razão de ter feito o mal que nos fez. Uma vez entendido, sejamos capazes de perdoar e de sofrer com paciência.
    Não somos deuses, somos Homens e, como tal, somos frágeis...
    Em suma, estas obras espirituais traduzem-se no entendimento e no bom trato com os irmãos, mesmo que tenham sido 'mauzinhos' connosco. Traduzem-se no acompanhamento que podemos fazer àqueles que vivem connosco ou que connosco se cruzam e às vezes, uma palavra, um conselho pode mudar a vida de uma pessoa. 

    Nesta Quaresma, neste Ano Santo da Misericórdia, tentemos praticar a misericórdia que é ter o coração perto dos miseráveis, dos que sofrem... 
    Demos aos outros aquilo que nós mesmos experimentamos... 

    Sede misericordiosos como o Pai...

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