O Senhor é a minha herança...


Jesus respondeu-lhe: 
«Quem tiver lançado as mãos ao arado 
e olhar para trás não serve para o reino de Deus». 

Os relatos de vocação fazem-me sempre lembrar a minha vocação. A minha vocação também teve as suas coisas, os seus contra-tempos, os seus avanços e recuos, como todas as vidas e como todas as vocações. 

No dia em que me decidi, falei com o meu pároco com o intuito de me ajudar a fazer caminho, pois sentia-me como Eliseu. O facto de ser filho único trazia-me o medo de abandonar a família, os amigos, a terra, trazia-me o medo de não ter coragem de desinstalar-me de mim mesmo... 

Quando falei com o meu pároco, embora envergonhado, senti-me muito aliviado porque, pelo menos, alguém sabia da minha vontade. O meu pároco, muito prontamente, falou-me do seminário - claro está! Afinal «cada um puxa a brasa para a sua sardinha» - e lá fui eu conhecer o seminário, etc...

Só tenho a agradecer ao Padre Baptista por todo o acompanhamento e ajuda que me prestou e ainda presta! 

Deve estar a fazer 8 anos que tomei a decisão... como o tempo passa!

Depois de todo o percurso que fiz conheci os Dominicanos - deste episódio já aqui falei - mas, sobretudo, conheci um frade com quem dialoguei e que me ajudou muito. Mais uma vez, o deixar a família era uma questão pesada, até que ele me disse: «Não há um corte com a família, mas apenas um afastamento, que é são! E não perdes a família, apenas vês a família mais alargada e mais ampla». E outro disse-me, ainda: «Você não pense muito, lance-se, atire-se de cabeça...». O mesmo disse o Padre Provincial no dia da Profissão, ainda que por outras palavras. 

No ano do Postulantado, fomos a uma Ordenação no Mosteiro dos Jerónimos e cantaram um cântico do caminho Neocatecumenal que era este Evangelho e lembro-me desta frase, quase gritada, naquele cântico: «Não é digno de mim!» (Jesus percorria todas as cidades).

«Lançar as mãos ao arado» é correr ao encontro da herança, lançar as mãos ao arado é estar consciente de que o agricultor, o Pai, precisa das nossas mãos, precisa da nossa vida, precisa de nós a tempo inteiro. Este lançar-se é fazer-se e saber-se disponível para o serviço...

Quando se opta por este caminho, não há que ter medo de se abandonar, mas há que ter a coragem de dar o primeiro passo, pois a messe que cultivamos é a nossa herança, pois é a messe do Senhor, não a nossa e, nesta messe, também Jesus nos acolhe e nos ama. 

É este Senhor a nossa herança; com Ele não precisamos de túnica, nem cajado, nem alforge, nem nenhum bem porque connosco temos a fonte de todos os bens. 

Como disse Bento XVI, no início do seu pontificado: «Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Amém.» (Homilia Completa).

O Senhor é a minha herança, sem dúvida!

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