«Se não vos tornardes como crianças...»


Hoje em dia, o Dia Mundial da Criança passa-nos ao lado e cai um bocado no ridículo - devo confessar - quando nos mandam aquelas mensagens: «Feliz dia da criança. Deixa sair a criança que há dentro de ti». Não gosto destas mensagens porque me fazem recordar que temos de ser infantis e não é isso que este dia quer significar. 

Este dia é um dia em que celebramos as crianças, aquelas que são verdadeiramente crianças. É o dia em que pensamos no que fazemos verdadeiramente pelas crianças, principalmente por aquelas que sofrem. 

As crianças são sempre o símbolo da pureza, da ingenuidade, da simplicidade, da doçura e da ternura simples. Por isso, Jesus chama crianças para justificar as suas posições. Mas cuidado... tornar-se como criança, não é tornar-se infantil. É sim tornar-se humilde e cultivar a simplicidade que uma criança tem.

Como é que tratamos as crianças da nossa sociedade?

Há uns meses saiu uma notícia que chocou o Mundo, as imagens correram o mundo, tanta indignação, tanta discussão, tantas cadeias de apoio nas redes sociais. Um menino foi encontrado morto numa praia. Mas, onde está essa indignação? Onde está essa notícia? Ah, já se arranjou outra melhor...

Saiu uma notícia de que, todos os dias, morrem 19 mil crianças em todo o mundo (sem contar as que são vítimas de ABORTO). E eu penso: quantos avanços se fazem na sociedade, na ciência, na política, na economia... e na vida das crianças que são os seres mais indefesos da sociedade?

Li, também, uma notícia - ridícula seguramente - de que uma senhora multimilionária, detentora da maior parte da riqueza do seu país, fez um pedido nas redes sociais para doações num hospital pediátrico, mas ela nem um único cêntimo...

Por isso, paremos de fazer essas correntes, essas coisas bonitas 'para inglês ver' e empenhemo-nos, a sério, pelo bem das nossas crianças, belo bem do nosso futuro, ou julgamos ser eternos?

Ponhamos a mão na consciência e pensemos bem no que fazemos pelo bem das crianças...

Hoje, também, a Igreja celebra a memória de São Justino, Padre da Igreja que viveu no século II da nossa era. Importante filósofo e teólogo morreu martirizado, pela ordem do Imperador Marco Aurélio. 

Acho que já tive oportunidade de dizer, mas os mártires são os santos que sempre, mas sempre me impressionaram e por quem tenho grande devoção. Não porque tenham tido uma vida santa, intensamente ligada à oração, à contemplação, mas porque foram capazes de dar tudo, ou melhor, de dar-se! 

Hoje, tantos e tantas, são mártires, são violentados, são perseguidos, são mortos pelo simples facto de dizerem que acreditam em Jesus Cristo. 

Infelizmente, a televisão só mostra o que bem lhe apetece, mas procurem o número de cristãos que já morreram perseguidos em 2016. O número é aterrador... mas, os números revelam que mais de 30% são crianças. 

Então, hoje, tenhamos presentes todos os que sofrem, principalmente as crianças. Rezemos por elas...
O Papa Francisco pediu, aqui há dias, que hoje fosse um dia de oração pelas crianças que morrem entre os refugiados. Aceitemos o seu pedido e unamo-nos, em oração, àqueles e àquelas que mais precisam...

Tornemo-nos crianças, sim, mas apenas na simplicidade do coração e não nos gestos, pois nos gestos e acções temos de ser adultos.

[Aqui, no nosso Convento de São Domingos de Lisboa, vai haver uma oração com cânticos de Taizé e que,certamente iremos recordar a intenção do Santo Padre. Será pelas 21h30.]

Pax Christi!

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