«Vos estis sal terrae»

É a primeira vez que celebro o Santo António como se fosse o São João. Como diz a cantiga: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontade», mas eu diria: «Muda-se a residência, muda-se a festa». Apesar de não ter nada que ver - e desculpem-me os amigos lisboetas - o Santo António com o São João...

Mas, além disso, gosto da figura e da vida de Santo António de Lisboa, que é o mesmo que de Pádua e não diferentes, como já me perguntaram hoje. 

Geralmente, quando há festividades de Santos, procuro ler algo sobre a vida dele e perceber em que é que ele pode ser exemplo para mim e para a minha vida e, por isso, fui à procura de algo sobre a vida deste Santo português e Patrono da Cidade de Lisboa (juntamente com São Vicente) e co-padroeiro de Portugal. Encontrei um texto de Bento XVI, numa audiência que ele dedicou ao Santo e que partilho porque acho um bom resumo e uma boa leitura da vida de São António: (Audiência do Papa Bento XVI, 10-02-10).


Um extracto do Sermão de Santo António aos Peixes, do Pe. António Vieira:

'Vos estis sal terrae»

Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou. Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés, a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo!
Oh, poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.

Pax Christi!

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