Onde procurar Deus?
«Apoderou-se de mim o terror e o espanto, estremeceram todos os meus ossos;
Um vento esbofeteou-me o rosto, arrepiou-me todos os meus pêlos do meu corpo.
Parou diante de mim, mas não reconheci o seu rosto»
cf. Job 4, 12 - 21
Depois daquela dura chamada de atenção por parte de Elifaz, Job adormece e, durante o sono, teve uma visão. É a esta visão que é uma resposta de Job perante as acusações que o seu amigo faz.
Este tipo de visões não são coisas raras nos livros veterotestamentários, ainda que sejam constituídos por elementos e situações diferentes. Por exemplo, I Reis 19, 9 -13 (A visão do profeta Elias), ; Ezequiel 11, 24; Daniel 8, 1; Ezequiel 43, 3 (SIM, É PARA PEGAR NA BÍBLIA E PROCURAR).
Todas falam de como é que Deus aparece. A que mais gosto é a do profeta Elias, pois diz que Deus se revela na brisa suave e não nas grandes manifestações da natureza.
Mas voltemos a Job...
Ainda que alguns digam que esta visão é uma teofania, uns preferem abordá-la como uma invenção /ficção do autor sagrado para explicar o mistério do sofrimento humano: todos os homens são pecadores em maior ou em menor grau e, por isso, as desgraças chegam muitas vezes, sem contar e sem justificação aparente.
Ora, esta maneira de pensar, para Job, é dificil de entender, porque Job era um homem justo e tinha consciência do pecado e procurava-se reconciliar com Deus (cf. Job 1).
Trata-se, então, de saber Onde procurar Deus?
Muitas vezes, somos arrebatados pelo pensamento de que Deus não se pode encontrar, que Deus só se revela a alguns, que Deus só se revela nas grandes coisas ou apenas nas coisas felizes... errado! Pobres de nós se apenas assim fosse....
É na brisa suave, ou seja, é no quotidiano da vida que Deus está e vem ao nosso encontro: nas pequenas alegrias mas, também, nas grandes tristezas; nos pequenos acontecimentos da vida, mas também no sofrimento. Há que procurar o modo como Deus se nos revela.
Não estejamos à espera de uma visão apocalíptica de Deus, de contemplar o Seu rosto glorioso, olhemos o irmão... ali está Ele! Simples...
A Quaresma é um tempo para procurar, para sentir essa brisa leve da graça, para perceber onde Deus está, esses lugares teológicos onde podemos fazer d'Ele uma experiência. Façamos o esforço de olhar o irmão nos olhos, de descobrir nele os 'vestigia dei' (vestígios de Deus).
Por falar em 'brisa leve', termino com um poema - que se fez um belo hino de Advento - do frei José Augusto Mourão, intitulado: Venha o orvalho leve da graça.
Venha o orvalho leve da graça
desça sobre a terra a ternura;
venha a mão que cura e protege
dar à vida luz e calor.
No deserto um grito ecoa:
Pastor de Israel que conheces
as pastagens altas da dor;
Fogo que incendeias a noite
e os caminhos brancos do pão.
Orvalho do céu, ó nuvem,
desce sobre nós: Vem, Senhor.
O deserto avança
a secura mina o coração e a alegria;
nem fogo nem pedra nós temos
onde repousar do caminho.
Somos terra exposta ao vento,
grãos de areia, irmãos, da esperança.
Tenhamos a audácia de O procurar...
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