Resistir ao Tentador

Não achava justo que, nesta Quaresma, passasse ao lado dos Evangelhos que ouvimos na Eucaristia e, por isso, hoje, comentarei o Evangelho de Domingo, ainda que fazendo referência ao nosso querido Job.

«Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’».
«Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’»
«Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’».
cf. Mateus 4,1-11

O Evangelho deste Domingo é sobejamente conhecido: as tentações de Jesus no deserto. Jesus é tentado pelo demónio, por Satan, o acusador. É o mesmo demónio que tenta Job, se repararmos bem. 

Ora, Jesus antes de dar início à sua vida pública, retira-se para o deserto, afim de se encontrar com Deus, mas acaba-se por encontrar com o demónio. Quer o diabo, quer o próprio Jesus estão bem informados e sabem as palavras de Deus, dado que as citam. Mas o diabo tem uma grande técnica e perícia porque faz o mal (a tentação) parecer de Deus. Porém, o mais interessante é que o diabo só aparece num momento de fraqueza, i. e., quando Jesus sentiu fome. 

Mas, atentemos nas respostas de Jesus:

  • ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’. 
Jesus cita a passagem de Deuteronómio 8, 3, referindo-se ao episódio bíblico em que Deus dá o maná ao Povo, mostrando que o pão que Deus dá não é só o alimento corporal.
Contudo, uma vida cuidada material e corporalmente, sem espiritualidade torna-se vazia, fria e sem interesse. É como uma Igreja abandonada. Bonita por fora, mas triste por dentro. Se quisermos uma imagem bíblica, aponto os «sepulcros caiados de branco», bonitos por fora, mas dentro cheios de podridão.
  • ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’. 
Mais uma vez, uma citação do Livro do Deuteronómio 5, 9. Esta passagem faz referência aos ídolos que o Povo de Israel usava e adorava. Deus não gosta desta atitude, ordenando que os destruam e que, assim, não tentem a Deus, nem inflamem a sua ira.
Também, na nossa vida apegamo-nos a certos ídolos e esperamos deles a nossa salvação e o nosso bem-estar, tais como o dinheiro, a arrogância, o egoísmo. Estes ídolos desviam a nossa atenção daquilo que é mais importante na nossa vida, isto é, Deus. 
  • ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’
Na senda da resposta anterior, Jesus continua a citar o Deuteronómio 5, 7. Jesus era um judeu e, como tal, tinha um grande conhecimento da Torah (Lei). Bem sabia ele que, todo aquele discurso não poderia vir de Deus, pois o diabo pede-lhe que o adore.
E fica a questão: «A quem adoramos?», recordo que adorar é «amar ao extremo».




O tentador, o acusador, o diabo, Satan, ou o Mal aproveita-se sempre das nossas fraquezas para actuar. No caso de Jesus, aproveitou-se do momento em que sentiu fome, mas na nossa vida aproveita de vários momentos de fraqueza: de uma depressão, de um insucesso, de um fracasso, de um divórcio, de um caso mal resolvido, de um despedimento... etc! 

O diabo aproveita-se destas pequenas coisas e aparece-nos tão bem disfarçado que nos leva a pensar que o que diz e o que nos impele a fazer vem de Deus. Aparece-nos de um modo tão bonito, citando palavras de Deus, mas usando-as e tirando-as do seu contexto para justificar o mal. 

Agora, fazendo o paralelo com a nossa leitura continuada: Job, em quem Deus confia, é tentado pelo diabo que lhe destrói os seus 'ídolos', pensando que Job estaria apegado a eles, mas não. Job estava apegado a Deus e, por isso, Deus protege-o e sabe resistir às tentações.

Que estejamos atentos aos modos como o Tentador age nas nossas vidas, tentemos descobrir estes modos e combatê-los firmemente para que a nossa vida não seja 'adepta' do mal. O Papa Francisco, na sua mensagem da Quaresma, afirma que o pecado destrói a dignidade e fá-lo em três momentos: O «amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba» que vêm ao encontro das tentações do Evangelho que hoje escutamos ou escutaremos. 

Saibamos ser como Job fiéis à vontade de Deus, mesmo que essa vontade custe e nos dificulte a vida, pois «ser cristão é exigente»! Neste tempo da Quaresma, que façamos o esforço por resistir às tentações do nosso mundo e que nos agarremos àquilo que verdadeiramente importa: DEUS!

Bom domingo...

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